quinta-feira, 24 de junho de 2010

Religião x Espiritualidade

Li um artigo interessante e resolvi postá-lo no meu blog.. espero que apreciem. Este artigo foi escrito sobre o episódio envolvendo os jogadores do Santos numa visita ao Lar Espírita Mensageiros da Luz, que cuida de crianças com deficiência cerebral para entregar ovos de Páscoa. Uma parte dos atletas, entre eles, Robinho, Neymar, Ganso e Fabio Costa, se recusaram a entrar na entidade e preferiram ficar dentro do ônibus do clube, sob a alegação que são evangélicos.

O texto é de autoria de Ed René Kivitz, cristão e pastor evangélico (e santista desde pequenininho), e tem o título "Reflexão para a paz". Segue:


Os meninos da Vila pisaram na bola. Mas prefiro sair em sua defesa. Eles não erraram sozinhos. Fizeram a cabeça deles. O mundo religioso é mestre em fazer a cabeça dos outros. Por isso cada vez mais me convenço que o Cristianismo implica a superação da religião, e cada vez mais me dedico a pensar nas categorias da espiritualidade, em detrimento das categorias da religião.

A religião está baseada nos ritos, dogmas e credos, tabus e códigos morais de cada tradição de fé. A espiritualidade está fundamentada nos conteúdos universais de todas e cada uma das tradições de fé.

Quando você começa a discutir quem vai para céu e quem vai para o inferno, ou se Deus é a favor ou contra à prática do homossexualismo, ou mesmo se você tem que subir uma escada de joelhos ou dar o dízimo na igreja para alcançar o favor de Deus, você está discutindo religião.

Quando você começa a discutir se o correto é a reencarnação ou a ressurreição, a teoria de Darwin ou a narrativa do Gênesis, e se o livro certo é a Bíblia ou o Corão, você está discutindo religião.

Quando você fica perguntando se a instituição social é espírita kardecista, evangélica, ou católica, você está discutindo religião.

O problema é que toda vez que você discute religião você afasta as pessoas umas das outras, promove o sectarismo e a intolerância.

A religião coloca de um lado os adoradores de Allá, de outro os adoradores de Yahweh, e de outro os adoradores de Jesus. Isso sem falar nos adoradores de Shiva, de Krishna e devotos do Buda, e por aí vai.

E cada grupo de adoradores deseja a extinção dos outros, ou pela conversão à sua religião, o que faz com que os outros deixem de existir enquanto outros e se tornem iguais a nós, ou pelo extermínio através do assassinato em nome de Deus, ou melhor, em nome de um deus, com d minúsculo, isto é, um ídolo que pretende se passar por Deus.

Mas quando você concentra sua atenção e ação, sua práxis, em valores como reconciliação, perdão, misericórdia, compaixão, solidariedade, amor e caridade, você está no horizonte da espiritualidade, comum a todas as tradições religiosas. E quando você está com o coração cheio de espiritualidade, e não de religião, você promove a justiça e a paz.

Os valores espirituais agregam pessoas, aproxima os diferentes, fazem com que os discordantes no mundo das crenças se dêem as mãos no mundo da busca de superação do sofrimento humano, que a todos nós humilha e iguala, independentemente de raça, gênero, e inclusive religião.

Em síntese, quando você vive no mundo da religião, você fica no ônibus. Quando você vive no mundo da espiritualidade que a sua religião ensina – ou pelo menos deveria ensinar, você desce do ônibus e dá um ovo de páscoa para uma criança que sofre a tragédia e miséria de uma paralisia mental.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Mal do Século

Depois de um bom tempo parado, sem escrever, mas sem deixar os estudos, estamos voltando... com a mesma coragem, mas com menos tempo para tal tarefa, infelizmente. É até feio falar isso, mas a verdade deve vir sempre em primeiro lugar, não? :)

Ainda falarei sobre as Doutrinas da Graça, mas queria antes discutir um assunto que me incomoda há algum tempo... o mal do século. Como estudante de Psicologia, aprendemos que a doença que mais assola o ser neste século é a depressão, estritamente ligada ao sentimento de culpa, talvez por acharmos que não há perdão, que Deus está morto (como afirma a vã filosofia), ou que temos que nos sacrificar e que isso adiantaria alguma coisa no resultado que pretendemos. Mas, permitam-me discordar da psicopatia em voga. Penso que o lugar mais alto na competição pelo título de "o mal do século" é ocupado pela ANSIEDADE. Explico.

A ansiedade anda camuflada sob várias máscaras atualmente e a que mais me chama a atenção, é a máscara da falta de fé. Tenho visto uma tênue ligação entre os dois conceitos. Hoje, posso definir ansiedade como sendo também o medo de viver algo que não se conhece, ou seja, um sentimento quase que fóbico pelo que acontecerá amanhã e, principalmente, por não se ter o controle deste fato futuro. Assim, uma pessoa ansiosa, diante de situações cotidianas, pode disparar seu alarme interno (ocasionando palpitações excessivas - taquicardia -, sudorese, dispnéia, etc.) pelo simples fato de não a certeza (como consequência, o controle) do que enfrentará no momento seguinte.

Passamos por vários momentos na vida onde este sentimento é bem claro. Se formos defender uma tese acadêmica amanhã, hoje será um dia destes. Ficamos extremamente ansiosos, nervosos, agitados, pois não sabemos com exatidão o que acontecerá. Será que conseguirei passar o que quero? O que será que os professores irão questionar-me? Saberei responder a contento? Incertezas... situação desenhada sob a nossa falta de controle dos fatos futuros.

Bom, normal seria apenas pensar que futuro é algo inalcançável, correto? Por que isso não ocorre então? Porque o ser humano ainda acha que pode controlar TUDO, incluindo o fator tempo neste contexto?

Imagine a seguinte situação, divagando na fantasia um pouco... DEUS aparece pra você, em pessoa, e lhe fala claramente: "olha, filho... amanhã será desta forma: tal professor perguntará tal coisa... acontecerá isso e aquilo... blá, blá...", ou seja, Ele te conta tudo exatamente como será a sua defesa de tese, todos os detalhes. O que isso mudaria em relação à sua ansiedade? TUDO!

Ai, então, entra o conceito de fé (ou a falta dela). Nós, cristãos, temos a mania de afirmar que cremos em Deus. MENTIRA! Se realmente tivéssemos a tal fé que afirmamos ter, leríamos: "entrega teu caminho ao Senhor, CONFIA nEle, e o mais Ele fará" e simplesmente agiríamos como se tivéssemos ouvido a voz direta de DEUS, como se Ele em pessoa tivesse falado de forma audível a nós, como no exemplo acima.

Assim, se a fé existisse realmente em nossos corações, não teríamos o mal do século a nosso redor, ou melhor, em nosso interior. A ansiedade é também a falta de fé em um Deus que já lhe provou diversas vezes que o controle do seu futuro a Ele pertence... SOMENTE a Ele pertence. Não temos qualquer controle sobre isso. O que nos cabe é crer. Por que é tão difícil??